Hanseníase - Um legado de famílias partidas no Brasil
Conheça a série de reportagens vencedora da categoria de Webjornalismo do Prêmio NHR Brasil de Jornalismo
O isolamento compulsório de pacientes de hanseníase foi a principal política de combate à doença no Brasil entre os anos de 1923 e 1962. Existiram 36 hospitais-colônias no país, espaços com vilas de casas, igrejas, praças e escolas, projetados para segregar os pacientes para o resto de suas vidas. Em Itaboraí, região metropolitana do Rio de Janeiro, funcionava a Colônia Tavares Macedo – que confinou cerca de 2,5 mil pessoas durante esse período.
Os filhos dessas pessoas, fossem crianças e adolescentes ou até mesmo bebês nascidos nas colônias, eram separados de seus pais e levados para preventórios – espaços criados para abrigar os filhos de internos após a separação. A cerca de 14 quilômetros de Itaboraí, o Educandário de Vista Alegre, no bairro homônimo de São Gonçalo, era um dos preventórios que costumavam receber os filhos das vítimas do isolamento compulsório no Rio de Janeiro.
Os sobreviventes dessa política até hoje sofrem as consequências da separação e cobram na Justiça reparação do Estado. Foi trazendo os relatos dessas famílias partidas que a série de reportagens “Hanseníase: internação à força e filhos separados dos pais” conquistou a categoria de Webjornalismo do Prêmio NHR Brasil de Jornalismo.
A autoria é da jornalista Letícia Lopes, de 25 anos, que escreveu a série como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e decidiu publicá-la online em parceria com o site do Projeto #Colabora. Para a publicação no site, o produto original se transformou em uma série de seis reportagens e um webdocumentário. Além da jornalista, as produções contaram com a colaboração de Yuri Fernandes e Isabela Carvalho.
Intitulado “Dona Santinha”, o webdocumentário traz a história de Maria Conceição de Souza, que foi levada aos 16 anos para a Colônia Tavares Macedo, onde vive até hoje. Do com outro interno do local, Maria teve duas filhas, que foram levadas para um preventório logo após o nascimento. Sem sequer ter o direito de amamentar, ela perdeu o contato com as filhas – que foram dadas como mortas tempos depois.
Assim como as filhas de Maria, outras 40 mil crianças e adolescentes foram separados dos pais e enviados para preventórios, segundo projeção realizada em 2012 pela antiga Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. São os relatos de pais e filhos como esses que compõem as seis reportagens escritas por Letícia.
Ela conta que a inspiração para escrever as produções veio de uma conversa com a prima, na época estudante de direito e estagiária na Defensoria Pública da União. Ao chegar do trabalho, a prima de Letícia compartilhou o choque em descobrir a existência de casos em que filhos de pessoas acometidas pela hanseníase recorriam à Justiça por reparação devido aos anos que passaram separados dos pais.
Na época, o primeiro veredito favorável sobre o tema havia sido tomado em primeira instância no Rio de Janeiro. Comovida pelos relatos da prima, Letícia começou a estudar mais sobre o assunto e decidiu abordá-lo em seu TCC.
Letícia comemora a conquista no Prêmio NHR Brasil de Jornalismo e se diz grata pelo reconhecimento, que a impulsiona a continuar escrevendo produções humanizadas sobre pautas sociais importantes. Ela afirma ainda que, se não fosse pelo apoio do Projeto #Colabora, não teria sido possível publicar as histórias na íntegra, respeitando as narrativas dos entrevistados.
Confira nos links abaixo as reportagens que formam a série.
Famílias partidas: efeito colateral da hanseníase no Brasil
Filhas levadas pelo Estado e décadas de isolamento pela hanseníase
Colônia de hanseníase tinha futebol, carnaval e até cadeia
Enfermeira salvava filhos de pacientes com hanseníase de exílio familiar
Hanseníase: ex-internos recebem pensão mas reparação a filhos demora