O receio da rejeição e a esperança de um futuro melhor
Uma pequena mancha foi encontrada nas costas de Kaíque aos sete anos de idade. Depois de examinado por um médico, ele passou a usar uma pomada. Mas a mancha crescia com o tempo. Kaíque não se incomodava. Preocupadas, a mãe e a avó levaram o caso para o Centro de Referências de Doenças Tropicais, em Macapá. Com uma biópsia, veio a confirmação do caso de hanseníase quando Kaíque tinha 11 anos.
“Eu não quis sair de casa e brincar. Eu estava triste, com vergonha. Achava que meus amigos não queriam brincar mais comigo porque tinham medo de pegar hanseníase também”, relembra o rapaz, agora com 14 anos. À época, ele preferiu se isolar e se divertir com jogos no computador. E a família resolveu manter a doença em segredo por medo da rejeição das outras pessoas. Kaíque teve medo de ser excluído na escola.
No início do tratamento, vieram algumas reações aos medicamentos: mal estar, dores de cabeça, fraqueza. Elas sumiram à medida que o tratamento seguia. Kaíque viu a mancha nas costas desaparecer e foi curado. Voltou a brincar com os amigos da vizinhança, mesmo ainda preferindo o videogame.
Mesmo aprendendo a lidar com o preconceito nas reuniões do grupo de autocuidado, quis manter segredo sobre a hanseníase. “Estou curado agora, mas a doença é uma lembrança triste. Eu quero esquecer”, confessa.
Conceição, avó de Kaíque, aprendeu a produzir sandálias decoradas nas oficinas de artesanato oferecidas no grupo. O dinheiro ajuda no sustento da casa, onde moram também a mãe e duas irmãs do rapaz. Como “único homem da casa”, como diz, Kaíque quer trabalhar a ajudar a família quando crescer.