recomendacoes oms hanseniase

Embora não existam indicações até o momento sobre a interação com a COVID-19, a hanseníase traz aspectos que merecem ser levados em consideração por serviços e profissionais de saúde, pessoas acometidas e familiares no contexto da pandemia do coronavírus.

Cuidados e necessidades especiais fazem parte das recomendações listadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pela Federação Internacional de Associações de Combate à Hanseníase (ILEP, sigla em inglês) e pela Parceria Global pela Erradicação da Hanseníase (GPZL, sigla em inglês).

As medidas recomendadas podem ser adotadas pelos países com pessoas acometidas pela hanseníase, tanto pelos diversos níveis de governo como pelas organizações que atuam junto a estas pessoas.

Confira abaixo a íntegra do documento traduzido pela NHR Brasil.

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Recomendações sobre hanseníase e COVID-19

Comentários gerais

➢ As principais medidas de prevenção são lavar as mãos com água e sabão e distanciamento social
➢ Siga as recomendações do seu governo sobre viagens, trabalho e reuniões sociais
➢ Qualquer pessoa com sintomas respiratórios deve ficar em casa e buscar auxílio médico por telefone
➢ No momento, não há indicação de interação específica entre hanseníase e COVID-19

Diagnóstico e manejo clínico de pacientes com hanseníase

➢ A OMS recomenda que programas baseados em comunidades e atividades de busca ativa de casos sejam adiados até segundo aviso; isto inclui a busca por contatos e quimioprofilaxia.
➢ O cuidado do paciente nos ambientes clínicos, incluindo diagnóstico e manejo dos casos, deve continuar com atenção especial para a higiene das mãos e uso de máscaras tanto por equipes de saúde como pelos pacientes. Estoques de PQT devem ser disponibilizados por 2 a 3 meses para reduzir a frequência de retornos às unidades.
➢ Intervenções que não sejam urgentes, como cirurgias reconstrutivas, podem ser adiadas.
➢ Avaliações neurológicas devem continuar sendo feitas a cada três meses para pacientes em tratamento com PQT para reduzir o risco de futuras incapacidades. O tratamento de reações deve continuar.
➢ Esteroides devem ser disponibilizados para pacientes de hanseníase quando houver indicação para o tratamento de neurites. Os esteroides são medicamentos imunossupressores, podendo aumentar a suscetibilidade ao COVID-19, especialmente quando utilizados por muitos anos para doenças crônicas, como artrites reumatoides. Este efeito está relacionado à dose e à duração dos esteroides disponibilizados. Desta forma, a duração típica de 20 semanas de prednisona para pacientes de hanseníase é considerada segura. Normalmente, o diagnóstico da tuberculose deveria ser investigado para qualquer pessoa com tosse antes de começar a tomar esteroides, portanto, o tratamento com esteroides deve ser adiado por 2 a 3 semanas em pessoas com sintomas sugestivos para COVID-19. Alguns pacientes com eritema nodoso hansênico (ENH) precisam usar esteroides por um período maior; nestes casos difíceis, o benefício dos esteroides é geralmente mais importante do que o pequeno aumento no risco de adquirir COVID-19.
➢ Se possível, entre em contato por telefone ou mídias sociais com pacientes que estão em tratamento com corticosteroides para garantir que eles estão adotando todas as precauções contra a COVID-19.

Aspectos da saúde pública para a hanseníase na pandemia de COVID-19

Quando epidemias ou pandemias ocorrem, as pessoas mais pobres, incluindo aquelas acometidas pela hanseníase, geralmente são afetadas de forma desproporcional. As medidas que ajudam a controlar uma pandemia, como as restrições de circulação e fechamento de locais de trabalho, geralmente têm um impacto negativo sério para grupos vulneráveis. Elas podem também causar inquietação social e podem levar à perda de renda para indivíduos e famílias.
➢ Uma atenção especial deve ser dada ao alcance de pessoas em situação de vulnerabilidade na comunicação de medidas recomendadas pelo governo para mitigar os riscos da COVID-19. Deve ser feito um esforço para alcançar as pessoas acometidas pela hanseníase usando diversas mídias, como telefone celular, rádio, panfletos e cartazes.
➢ Disponibilizar água potável é sempre importante, especialmente agora, para garantir que as pessoas podem tomar ações preventivas adequadas e podem cuidar de seus familiares doentes. O acesso aos serviços de saúde tem de ser garantido da melhor forma possível e com igualdade.
➢ É crucial a administração adequada dos estoques de PQT, assim como a continuação da distribuição de PQT e a solicitação de PQT em tempo oportuno.
➢ É necessário evitar todas as consultas hospitalares não-urgentes e entradas que podem ser adiadas em unidades que atendem e tratam pacientes com COVID-19 para diminuir o risco de infecção para pacientes de hanseníase. Nestes casos, é preferível oferecer cuidados baseados nos domicílios ou nas comunidades.

Serviços para pessoas com deficiências e/ou consequências psicossociais da hanseníase

Pessoas acometidas pela hanseníase, especialmente aquelas com deficiências causadas pela hanseníase, podem enfrentar o estigma e ser levadas à exclusão social e ter impactos no bem-estar mental. A exclusão social frequentemente agrava a pobreza existente, desigualdades sociais e outras vulnerabilidades. Uma proporção significativa das pessoas acometidas sofre de condições comuns da saúde mental, como depressão e ansiedade.

Onde houver disponibilidade, as pessoas acometidas podem ser ajudadas por meio de serviços de reabilitação socioeconômicas, grupos de autocuidado ou ajuda mútua, aconselhamento e serviços de saúde mental para as comunidades. Frequentemente, estes serviços envolvem reuniões em grupo, contatos presenciais com outras pessoas e cuidadores.

As principais medidas de controle da COVID-19, como distanciamento social, isolamento e proibição de aglomerações interferem em serviços e intervenções mencionados acima. Isto pode afetar diretamente os meios de subsistência das pessoas acometidas, sua capacidade de promover uma efetiva prevenção de incapacidades e atividades para o desenvolvimento de resiliência e para a superação de problemas mentais. Elas também podem aumentar a exclusão social e a solidão, enquanto o medo da infecção da COVID-19 pode adicionar ansiedade e depressão.

Intervenções recomendadas para mitigar os problemas citados acima:
➢ Conscientizar profissionais de saúde, serviços sociais e autoridades públicas sobre os problemas psicossociais que as pessoas acometidas pela hanseníase podem enfrentar e a forma como as medidas de controle da COVID-19 podem agravar estes problemas.
➢ Defender, junto às autoridades, a permissão para a visita de profissionais de saúde e profissionais do serviço social selecionados, incluindo pessoas que atuam com aconselhamento, a pessoas com problemas conhecidos relacionados a deficiências, estigma, ansiedade ou depressão.
➢ Tentar garantir uma linha telefônica de atendimento para pessoas acometidas pela hanseníase, ouvindo pessoas que enfrentam problemas ou apenas oferecendo uma escuta e/ou levando informações essenciais sobre a COVID-19 a forma de proteção contra a infecção. Alguns países já possuem uma linha de atendimento sobre a COVID-19. Onde esta medida existir, a equipe de atendimento deve estar informada sobre as necessidades mentais das pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo pessoas com hanseníase. Onde houver uma linha específica para pessoas acometidas pela hanseníase, os atendentes devem saber quais orientações fornecer sobre a COVID-19.
➢ Entrar em contato com pessoas cujos problemas sejam conhecidos, por telefone ou SMS, para que elas saibam que alguém se preocupa com a situação delas e para fornecer informações essenciais sobre a COVID-19 e formas de proteção contra a infecção.
➢ Criar uma plataforma nas mídias sociais, como um grupo de Facebook ou grupo de WhatsApp onde as pessoas podem encontrar informações sobre hanseníase e COVID-19 e onde elas podem entrar em contato entre si ou buscar apoio de seus pares. Estes grupos podem ser usados para fornecer informações essenciais sobre como se proteger contra a infecção do vírus.
➢ Organizações governamentais e não-governamentais devem facilitar o acesso a direitos sociais, incluindo pensões ou a provisão de alimentos para pessoas deficiências relacionadas à hanseníase e outros grupos vulneráveis, como os idosos.

 

 

Publicação: 13 de abril de 2020