Relatos de participantes de grupo de autocuidado na pandemia
Esclarecimento: A imagem acima é de dezembro de 2019, na comemoração natalina do Grupo de Autocuidado Quem Ama (se) Cuida, em Fortaleza/CE. As atividades presenciais apoiadas pela NHR Brasil estão suspensas desde março.
Por Amanda Fernandes
Neste momento, estamos vivendo um período de pandemia pela Covid-19. No Ceará, o Governo Estadual está adotando medidas preventivas com o objetivo de conter a propagação do vírus e evitar o surgimento de casos novos. Uma dessas medidas foi o fechamento de locais que permitam a aglomeração de pessoas, incluindo comércios, escolas e templos, estimulando as pessoas a ficarem em casa.
Direcionado para pessoas acometidas pela hanseníase, o Grupo de Autocuidado Quem Ama (se) Cuida, projeto do Centro de Dermatologia Dona Libânia, em Fortaleza, realizado em parceria com a NHR Brasil e a Liga Acadêmica em Doenças Estigmatizantes (Lades), também adotou as medidas de prevenção e adiou o início de suas atividades para incentivar os membros a adotarem as medidas preventivas, como o isolamento social voluntário.
As medidas de prevenção internacionalmente adotadas contra a Covid-19 são de extrema importância e necessitam ser seguidas. No entanto, federações internacionais, como a Federação Internacional de Associações de Combate à Hanseníase (ILEP, sigla em inglês), têm apontado que as pessoas em maior vulnerabilidade, incluindo aquelas acometidas pela hanseníase, geralmente são afetadas desproporcionalmente quando há pandemias, trazendo impactos negativos para estes grupos. Portanto, cabe a todos nós, instituições de ensino superior, serviços, organizações governamentais e não-governamentais, traçar estratégias que minimizem tais efeitos.
Em contatos a distância, pedimos para que os participantes compartilhassem conosco suas visões sobre como está sendo esse período de isolamento para eles. Confira abaixo:
“Estou me sentindo com medo e insegurança, a humanidade está sofrendo. Isso afetou muito no meu dia a dia. Trabalho, faculdade com aula online, não posso sair de casa para nada. Estou pedindo a Deus tudo isso passar.” (Cleidiane Bezerra, 32 anos, moradora do bairro Presidente Kennedy)
“A gente fica preocupado, né? Estou de quarentena, meu filho em casa não vai mais visitar a mãe dele porque ela trabalha na área da saúde, ele está com saudade. Estamos preocupados com ela. Minha rotina não mudou muito porque eu já não gosto de sair de casa. Mudou mais porque não posso ir mais para minhas consultas, minha fisioterapia... Eu gostava de ir, me sentia mais aliviado.” (Ayrton Monteiro, 51 anos, morador do bairro Jardim Iracema)
“Me sinto triste. Penso na minha família, penso em mim e também nas outras pessoas que estão adoecendo. É uma luta de todo mundo. Minha rotina mudou muito, eu fazia caminhada, agora não posso mais fazer nem sair de casa.” (Antônio Teixeira, 50 anos, morador do bairro Passaré)
“Eu, no momento, estou bem. A gerência do meu trabalho, meus colegas funcionários e eu estamos tomando todas as medidas preventivas para (evitar) a contaminação. Estamos sempre atentos aos sintomas, checando temperatura, mas fico com medo de conviver com pessoas que podem não estar tomando os cuidados certos para evitar, principalmente pela minha imunidade, que é baixa.” (Ricardo de Souza, 51 anos, morador do bairro Jacarecanga)
Os participantes também relataram como esse período impactou em relação à ausência do Grupo de Autocuidado:
“Impacta porque não era um grupinho qualquer, o nosso grupo era muito bom para todo mundo. Não era só uma reunião, era bom para o nosso psicológico. Via nos relatos do grupo que muita gente ficava só em casa e, depois que começou o grupo, foi muito bom para eles, ajudou muito. Fico pensando nelas. Espero que isso passe logo para podermos voltar como no ano passado.” (Ayrton Monteiro)
“O grupo precisa estar sempre se reunindo para podermos debater sobre a hanseníase. O isolamento impacta, mas vamos usar os meios que temos para continuar aprendendo, né? Como a internet. A convivência humana é que faz falta, mas essa fase é algo que temos que nos adaptar e respeitar para isso passar logo.” (Ricardo de Souza)
“Era maravilhoso ir para as reuniões, obter informações importantíssimas sobre a hanseníase, reencontrar o pessoal do grupo. Era como se fosse uma terapia. Impactou não ter as reuniões, eu estava sempre perguntando quando o grupo ia voltar.” (Ana Paula, 50 anos, moradora do bairro Conjunto Esperança)
“Estamos aguardando tudo isso passar, logo vai acontecer. E quanto passar, o grupo volta. Mas enquanto estamos nessa situação, o grupo realmente tem que permanecer em casa.” (Gerson Pereira, 22 anos, morador do bairro Messejana)
Amanda Fernandes é acadêmica de enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante da Liga Acadêmica em Doenças Estigmatizantes (Lades)
Publicado em 6 de maio de 2020