Dia Mundial da Doença de Chagas: dados evidenciam
urgências no enfrentamento à enfermidade
Doença Tropical Negligenciada (DTN), enfermidade acomete 6 milhões de pessoas no mundo. Neste 14 de abril, pesquisadores e lideranças trazem questões relevantes para o enfrentamento da doença.
Nos últimos dias, informações sobre uma lei da Irlanda que restringe a doação de sangue de sul-americanos no país vem gerando uma série de discussões na internet. A medida, que tem como base diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), busca evitar uma possível transmissão da doença de Chagas e vem trazendo à tona questões antes ignoradas sobre a enfermidade.
A doença de Chagas faz parte do grupo de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) definido pela OMS e pelo Ministério da Saúde do Brasil, que consiste na infecção pelo protozoário Trypanossoma cruzi (T. cruzi) e acomete aproximadamente 6 milhões de pessoas em todo o mundo. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), segundo o último Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde. No Brasil, um dos 21 países endêmicos do continente americano, estima-se que haja pelo menos 1 milhão de pessoas acometidas.
A propagação ocorre por diferentes vias de transmissão. As principais são a transmissão vetorial, oral, transmissão vertical (que ocorre quando uma criança é infectada ainda na gestação ou no parto) e transfusão de sangue contaminado.
A infecção pode se desenvolver para um quadro mais agudo na fase crônica, atingindo cerca de 30% dos acometidos e inclui complicações cardíacas e/ ou digestivas. “A maioria das pessoas não apresenta nenhuma manifestação ao longo da vida. Porém, a doença de Chagas pode ocasionar a morte, especialmente na fase crônica da doença”, explica Eliana Amorim, doutora em Saúde Coletiva, consultora da NHR Brasil e integrante do projeto Cuida Chagas.
Dados preocupantes
O Brasil apresenta alta taxa de mortalidade da doença de Chagas. Nos últimos 10 anos, foram registrados em média 4 mil óbitos a cada ano em decorrência da enfermidade, segundo o último Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde. Esse fator é ainda mais perigoso quando analisado pelo contexto de subnotificação dos casos da doença, tendo em vista que apenas 10% das pessoas infectadas pela enfermidade recebem o diagnóstico e tratamento. A aparição tardia dos sintomas tende a agravar ainda mais esse cenário.
Muitos fatores corroboram para a transmissão da doença, como a degradação ambiental e alterações climáticas, mas aspectos socioeconômicos e a concentração urbana sem a estrutura adequada são determinantes para o contágio da doença de Chagas.
Eliana destaca como desafio a negligência da indústria farmacêutica e do Estado no investimento de pesquisas que aprimorem o tratamento da enfermidade, que, segundo relatório da OPAS de 2021, apenas 1% das pessoas acometidas conseguem ter acesso. “Enfrentar a Doença de Chagas é enfrentar condições de desigualdades sociais, interferindo na estrutura social existente e demandar melhores condições de trabalho, educação, renda e moradia”, salienta a enfermeira.
Enfrentamento
Joanda Gomes, presidente da Associação dos Portadores de Doença de Chagas e Insuficiência Cardíaca de Pernambuco (APDCIM), aponta que é preciso ter incentivo à atenção primária de qualidade à pessoa acometida pela enfermidade. Ela considera crucial que os agentes de saúde recebam capacitação adequada para que possam ter um entendimento completo da doença, a fim de que indivíduos com suspeita possam ser direcionados para o tratamento o mais cedo possível.
“É na Atenção Primária à Saúde que se deve receber informação sobre atenção integral e sobre como as pessoas da comunidade mais vulnerável são afetadas. Se os profissionais de saúde souberem lidar com esses casos, vão poder reconhecer os sintomas e identificar alguma infecção, para separar os casos agudos dos casos crônicos”, diz Joanda.
O investimento na atenção primária permite também que a pessoa acometida seja orientada corretamente a dar andamento ao tratamento. Segundo Joanda, ao ser diagnosticada após passar por uma cirurgia de colocação de um marca-passo cardíaco, ela não foi informada sobre a necessidade de procurar o ambulatório para dar início ao tratamento da doença de Chagas.“Aí eu me pergunto: quantas pessoas não existem hoje em dia na mesma situação que eu estive na minha infância, ainda na década de 80?”, questiona ela.
Impedindo a continuidade desse ciclo em sua cidade, a APDCIM, primeira associação do mundo dedicada à luta pelos direitos dos pacientes com doença de Chagas, desenvolveu em Pernambuco um esquema multicêntrico, envolvendo o paciente na procura de seu processo de tratamento. A Associação fornece assistência psicológica, clínica e nutricional ao indivíduo acometido. Além disso, produz ações e colabora para trazer notoriedade para uma condição tão negligenciada como a doença de Chagas.
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