9º Fórum DTNs abre debates com foco em ações concretas

Lideranças sociais e autoridades discutem prioridades para o enfrentamento das doenças tropicais negligenciadas, destacando a necessidade de investimento em saúde, ciência e tecnologia. Encontro segue no dia 21 de setembro em São Paulo.

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A etapa virtual do 9º Fórum Social Brasileiro de Enfrentamento das Doenças Infecciosas e Negligenciadas (Fórum DTNs) marcou o início de um novo ciclo de debates e ações coletivas. No dia 14 de setembro, o evento reuniu líderes sociais, representantes de organizações e movimentos, além de autoridades governamentais, com o objetivo de destacar e discutir as demandas urgentes na luta pelos direitos das pessoas afetadas por essas doenças.

O Fórum deste ano segue o tema: “Nove anos do Fórum Social Brasileiro de Enfrentamento das Doenças Infecciosas e Negligenciadas: Até quando sem respostas?”. E é de acordo com a temática acima que o encontro foi guiado e permeado de discussões atuais sobre reivindicações pertinentes no combate à DTNs.

A abertura e mediação da etapa virtual contou com a participação de Eloan Pinheiro, especialista em Tecnologia Farmacêutica que atuou junto à Fiocruz e a Organização Mundial da Saúde. Durante sua fala, Eloan destacou que o Fórum é um espaço de união e resistência, onde as vozes das populações historicamente negligenciadas se elevam diante das inúmeras urgências que afetam as comunidades mais vulneráveis, atingidas por doenças negligenciadas.

“Este Fórum não é apenas um espaço de fala, mas de ação. Que possamos sair daqui mais fortalecidos, conscientes das nossas lutas e com um plano concreto em mãos. A partir deste encontro, daremos um passo a mais na construção das soluções que nossas populações merecem. E não aceitaremos mais ficar sem respostas”.

João Vitor Kersul, do Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas (MNDN), recitou uma poesia em que ressalta a importância da união das organizações para combater a invisibilidade das DTNs. “Precisamos acreditar. A gente credita toda a nossa experiência e força em vocês que estão conduzindo as políticas públicas,” afirmou Kersul.

A presidente do 59º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - Medtrop 2024, Dra. Hiro Goto, abordou o papel crucial do Fórum em refletir a perspectiva dos pacientes e usuários do sistema de saúde, funcionando como um termômetro das condições de saúde em diversos setores. “Essa é a primeira atividade oficial do nosso congresso este ano. E esse espaço traz um importante olhar sobre os indivíduos usuários do sistema de saúde, auxiliando nas ações de diversos setores e contribuindo com a construção, com a melhoria e com o avanço da ciência médica”, ressaltou a médica.

Alda Maria da Cruz, Diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, assim como Eline Mendonça, da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, reforçaram a importância de uma abordagem integrada e eficaz para o enfrentamento às DTNs. Sylvia Elizabeth Peixoto, da Comissão à Saúde das Pessoas com Patologias, destacou a urgência de investir em educação em saúde, infraestrutura e saneamento básico para garantir o acesso à água e esgoto. Já o Dr. Nereu Henrique Mansano, do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, enfatizou a carência de recursos para ciência e tecnologia, mencionando a necessidade de investimentos no desenvolvimento de medicamentos e diagnósticos para DTNs.

Contribuições dos Movimentos

A segunda mesa do encontro focou nas contribuições dos representantes dos movimentos e organizações integrantes do Fórum ao decorrer dos anos.

Alberto Novaes, médico de saúde coletiva, epidemiologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), fez uma apresentação detalhada sobre as contribuições do Fórum DTNs desde sua criação em 2016. O professor destacou as temáticas relevantes abordadas pelo Fórum em suas cartas de reivindicações anuais e as discussões promovidas em favor dos direitos das pessoas afetadas. “É importante fazermos esse retrospecto para refletir sobre o que nós alcançamos e o que precisamos para reorientar nossa bússola para seguir em frente”, avalia o docente.

Fábio Corrêa Costa, do Grupo de Trabalho em Prevenção Positiva (GTP), foi incisivo ao destacar que tanto o investimento em medicamentos eficazes quanto a educação em saúde são fundamentais no enfrentamento das DTNs. Em consonância, José Cândido, do Movimento de Luta contra a Aids e integrante do MNDN, ressaltou com urgência a alta incidência de pessoas acometidas pelo HIV e AIDS, reforçando a necessidade de novas tecnologias para tratamento e a incorporação de antirretrovirais. Ambos destacaram o desafio persistente de combater o estigma e o preconceito que ainda cercam as doenças negligenciadas.

João Vitor Kersul finalizou a mesa com um apelo à continuidade do esforço coletivo e à importância de manter a visibilidade e o foco na causa dos movimentos sociais. Em sua apresentação, a liderança ressaltou como os movimentos sociais atuam para intermediar lutas públicas por direitos sociais da sociedade civil e sua relação com autoridades governamentais. “É essencial que nós dos movimentos sociais, assim como organizações e seus representantes, possamos intensificar a pressão sobre as autoridades políticas e governamentais para garantir a efetiva implementação das demandas e projetos propostos pelo coletivo do Fórum DTNs".

Durante o encontro, foi exibido um vídeo em homenagem à trajetória de luta e resistência de duas grandes lideranças que nos deixaram este ano: Josefa Oliveira Silva, da organização RioChagas, e Marly Araújo, fundadora do Gamah (Grupo de Apoio a Mulheres Acometidas pela Hanseníase). O vídeo celebrou suas vidas dedicadas à defesa dos direitos das pessoas afetadas por doenças negligenciadas, destacando o legado que ambas deixaram na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Consolidação das Reivindicações

Na parte da tarde, o encontro foi voltado à apresentação das propostas elaboradas para cada uma das temáticas discutidas na manhã do dia 14. O primeiro eixo focou no aprimoramento da Atenção Primária à Saúde (APS), destacando a educação continuada para profissionais, iniciativas que promovem a autonomia dos usuários do Sistema Único de Saúde e ações de acolhimento ao paciente.

O segundo tema abordou o desenvolvimento de estratégias para diagnóstico e tratamento das DTNs, enquanto o terceiro tratou das políticas voltadas ao enfrentamento das doenças infecciosas e negligenciadas no Brasil. Por fim, discutiu-se ações para fortalecimento do Fórum Social Brasileiro de Enfrentamento das Doenças Infecciosas e Negligenciadas.

Todas as propostas foram discutidas e revisadas coletivamente pelos membros do grupo e integrarão o documento reivindicatório que será consolidado na etapa presencial do Fórum, marcada para o dia 21 de setembro no Teatro da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).

Alexandre Menezes, epidemiologista e diretor executivo da Fundação NHR Brasil, organização apoiadora do Fórum, parabenizou as lideranças pela condução do evento e expressou sua emoção ao ver o progresso alcançado. "Fico profundamente emocionado ao testemunhar o Fórum sendo liderado com tanta capacidade e potência pelas lideranças. Isso representa a concretização de um sonho que estamos construindo juntos: tornar essas lideranças autônomas e protagonistas nesse processo tão importante.”

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