Você sabe como funciona o tratamento para hanseníase?
De forma gratuita, segura e eficaz, a hanseníase tem tratamento e cura. Conheça como acontece o tratamento, as formas de prevenção e os avanços para eliminar a doença no Brasil.
Desde 1991, o SUS disponibiliza a PQT-U, método eficaz, seguro e confiável que leva a cura da hanseníase. Foto: Gutemberg Brito
A hanseníase é causada, na maioria dos casos, por uma bactéria chamada de Mycobacterium leprae, também conhecido como bacilo de Hansen. Por muito tempo, se pensou que a única medida para o controle da hanseníase fosse isolar as pessoas acometidas, o que virou até mesmo política pública de saúde no Brasil.
A falta de tecnologia e informação da época não condiz com o cenário atual. Hoje, a hanseníase tem cura e o é tratamento disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, a partir da formação de profissionais e a ampliação do acesso à saúde, é possível diagnosticar a doença em tempo hábil, evitando incapacidades e sequelas.
Desde 1991, o SUS utiliza de forma gratuita e exclusiva a Poliquimioterapia (PQT-U) como o principal protocolo para o tratamento da hanseníase. Trata-se da combinação de três antibióticos: rifampicina, dapsona e clofazimina.
Essa combinação é usada para aumentar a eficácia do tratamento e evitar a falha dos medicamentos. Apesar de alguns efeitos colaterais que podem surgir, é um método seguro e confiável, com alta eficácia e que leva a cura quando feito corretamente, podendo durar em torno de 6 meses a 1 ano.
Mas, para além do tratamento medicamentoso, as pessoas acometidas pela hanseníase precisam de um acompanhamento multiprofissional. Como se trata de uma doença neuro-dermatológica, que atinge principalmente os nervos periféricos, pode causar a perda de força muscular, perda da sensibilidade, paralisia e dores, levando a dificuldades para exercer suas atividades cotidianas.
“A hanseníase é primariamente uma doença que afeta os nervos. Isso significa que o dano neural pode ocorrer antes mesmo de qualquer manifestação visível, como manchas na pele. Por esse motivo, é essencial que as pessoas estejam atentas não apenas às lesões de pele, mas também a sinais como perda de força, dores no trajeto dos nervos e sensação de choques e fisgadas, especialmente nas mãos e nos pés”, explica Aymée Rocha, chefe de pesquisas da Fundação NHR Brasil.
Atenção Integral
O tratamento com fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais é essencial para que esses indivíduos possam ter autonomia para trabalhar, estudar e ter lazer. Além disso, o acompanhamento e tratamento psicológico é importante para a adesão aos tratamentos e a recuperação desses pacientes.
Devido ao preconceito e o estigma da doença, muitas pessoas acometidas pela hanseníase se isolam, param de conviver com as pessoas próximas, deixam de realizar atividades de rotina e têm a saúde mental afetada. Por isso, a criação de grupos de apoio e o trabalho de psicólogos é importante para uma recuperação completa.
Prevenção
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) não adota nenhum esquema medicamentoso de prevenção para a hanseníase. O que acontece é o acompanhamento de contatos próximos das pessoas acometidas, como familiares e amigos que mantêm um grau de convivência próxima e prolongada. A recomendação inclui, ainda, a busca ativa de casos para a detecção precoce da hanseníase, o que é essencial para interromper a cadeia de transmissão e minimizar o impacto da doença na vida das pessoas.
Nesses casos, são feitos exames clínicos para identificar possíveis sinais e sintomas compatíveis com a hanseníase, permitindo que o tratamento seja iniciado em tempo oportuno – ou seja, antes que ocorram sequelas ou que a pessoa transmita a doença para outros. Mas vale lembrar que, ao iniciar o tratamento, a pessoa acometida deixa de transmitir a hanseníase.
Além disso, há um protocolo que prevê a aplicação de uma dose adicional da vacina BCG. Para os contatos próximos de pessoas acometidas, que possuam uma ou nenhuma cicatriz da vacina, é recomendada uma nova dose. Mesmo sem ser específica para a hanseníase, a BCG reduz as chances da doença se desenvolver com quadros graves e incapacitantes.
Pesquisas e avanços
Atualmente, a Fundação NHR Brasil, a partir do Programa PEP++, realiza pesquisas sobre a profilaxia pós-exposição (PEP), que é uma estratégia recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que grupos de risco de contaminação recebam medicamentos preventivos antes de desenvolverem a doença.
No caso da hanseníase, o PEP++ combina dois medicamentos – rifampicina e claritromicina – administrados em três doses ao longo de dois meses, com o objetivo de alcançar uma eficácia em torno de até 90% na prevenção de novos casos. A pesquisa é feita com a administração do protocolo de quimioprofilaxia para pessoas de Fortaleza e Sobral que são contatos próximos de pessoas acometidas pela hanseníase.
Além disso, estão em desenvolvimento pesquisas sobre a formulação de uma vacina imunizante contra a hanseníase. No Brasil, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) está à frente dos primeiros testes clínicos da LepVax, a primeira vacina contra a hanseníase no mundo. O imunizante é fruto de uma colaboração internacional que inclui a NLR Alliance, da qual a Fundação NHR Brasil faz parte.
Como lembra Alexandre Menezes, diretor nacional da Fundação NHR Brasil, é importante saber que, sem profissionais capacitados e formados para identificar a hanseníase, continuamos distante de um cenário em que a hanseníase não seja mais um problema de saúde pública. Por isso, a Fundação NHR Brasil também trabalha com o matriciamento de profissionais da saúde para que possam detectar e tratar a hanseníase em tempo oportuno.
“No Brasil, a capacidade de diagnóstico da hanseníase está majoritariamente concentrada nos centros de referência, que, embora desempenhem um papel essencial, muitas vezes estão localizados em regiões de difícil acesso para grande parte da população. Por isso é imprescindível investir na capacitação dos profissionais de saúde que atuam na Atenção Primária, pois eles estão mais próximos da comunidade e têm o potencial de ser a porta de entrada para a identificação e encaminhamento dos casos. Ao ampliar as habilidades desses profissionais, podemos aumentar o alcance e a oferta de cuidados, garantindo que mais pessoas tenham acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento, diminuindo as consequências graves da doença”, avalia Alexandre.