Fórum Social reúne demandas das doenças negligenciadas
O encontro reuniu estudantes, pesquisadores, lideranças e instituições no campus da UFMG
Fortalecer uma agenda integrada e ampliar as vozes de quem sofre com as doenças tropicais negligenciadas no Brasil foram alguns dos caminhos reafirmados na quarta edição do Fórum Social Brasileiro para Enfrentamento de Doenças Infecciosas e Negligenciadas.
O encontro reuniu 85 pessoas de movimentos e instituições diversas na Universidade Federal de Minas Gerais - Campus Pampulha, no dia 28 de julho. Os momentos de discussão foram liderados pelas organizações parceiras e pelas pessoas acometidas pela hanseníase, doença de Chagas, hepatites virais, esquistossomose, leishmaniose e filariose.
Um dos momentos emocionantes foi o relato pessoal da adolescente Adriana, que teve o diagnóstico da leishmaniose aos cinco anos de idade. Com um depoimento descontraído, ela relembrou ter crescido com a doença e com os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). “A gente pode reclamar, mas a gente precisa dele. Então a gente tem que defender. Imaginem como seria a nossa vida sem ele”, partilhou.
A criação e o desenho do SUS como rede de acesso para todos os cidadãos foram explanados pela médica Cristina Carrazone, da Casa de Chagas, do Pernambuco. A apresentação trouxe uma perspectiva histórica de como as pessoas tinham acesso à saúde antes do sistema, apontando que o SUS trouxe um modelo inovador de assistência, atualmente com falhas e dificuldades que devem ser superadas.
Para a dermatologista Maria Aparecida Grossi, a participação social foi um dos diferenciais no surgimento do SUS. Por isso, ela defendeu que o espaço do Fórum é hoje uma das ferramentas para que se busque o funcionamento desejado do sistema para todos, fortalecendo a participação das pessoas que precisam do serviço com qualidade.
Um dos desafios discutidos no Fórum foi também o silêncio em torno de doenças pouco conhecidas e acompanhadas de forte estigma, seja ele nas relações pessoais ou institucionais.
“Infelizmente, muitos de nós desconhecemos também os nossos direitos. Por isso, precisamos levar essas informações para as pessoas acometidas”, acrescentou Francilene Mesquita, do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) do Piauí.
O encontro contou ainda com a presença de Pedro Albajar, técnico do Departamento de Doenças Tropicais Negligenciadas na Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele considerou vital escutar a síntese das reivindicações do grupo, contextualizando os próximos passos na discussão sobre as doenças mundialmente.
Os objetivos, metas e indicadores para o enfrentamento de 20 doenças negligenciadas serão desenhados no Roteiro 2021-2030 para os 194 países integrantes da OMS. Segundo Albajar, está aberta até setembro a fase de coleta de opiniões e reivindicações das pessoas acometidas. Desta forma, o técnico esteve presente no Fórum para explicar como estas sugestões podem ser incluídas no próximo roteiro, destacando também o papel da sociedade civil em acompanhar e cobrar dos governos a efetivação das metas estipuladas.
Com um trabalho iniciado no Curso de Fortalecimento de Lideranças, promovido pela NHR Brasil, os participantes do Fórum discutiram sobre os pontos a serem incluídos na Carta de Belo Horizonte para expressar as opiniões e pautas para o enfrentamento das doenças negligenciadas no Brasil.
Confira na íntegra o conteúdo da Carta de Belo Horizonte
Data de publicação: 29 de julho de 2019