Enfrentamento às Doenças Infecciosas e Negligenciadas
Compartilhar a trajetória de mais de sete anos de lutas pelos direitos das pessoas afetadas por doenças como hanseníase, doença de Chagas, leishmanioses, esquistossomose, filariose, hepatites virais e tracoma. Esse foi o objetivo da reunião sobre o Fórum Social Brasileiro de Enfrentamento às Doenças Infecciosas e Negligenciadas (Fórum DTNs) durante o 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Realizada no último domingo (20) no Centro de Convenções de Salvador, a reunião trouxe a participação de organizações, movimentos sociais, profissionais de saúde, estudantes, pesquisadores, docentes e outras pessoas que apoiam a causa.
Com o protagonismo da Associação de Chagas da Bahia (Achaba), o evento foi organizado a partir da estreita parceria entre Netherlands Hanseniasis Relief do Brasil (NHR Brasil) e Universidade Federal do Ceará (UFC), com o apoio de Universidades Aliadas por Medicamentos Essenciais (UAEM) e Médicos sem Fronteiras (MSF). O espaço propôs uma roda de conversa a partir de questões relacionadas às diferentes realidades e atuações dos participantes, abordando dimensões das políticas públicas de saúde, educação, ciência, tecnologia e inovação. Tais perspectivas e contribuições foram sendo alinhadas às pautas de lutas do Fórum.
Alberto Novaes, professor da Faculdade de Medicina da UFC e infectologista/epidemiologista parceiro da NHR Brasil, abriu a reunião explicando que um dos objetivos do Fórum DTNs é possibilitar a participação social das pessoas acometidas e superar o estigma associado a este conjunto de doenças que têm a desigualdade e a pobreza como causa e consequência. Foram discutidos aspectos relativos a falhas da ciência, de mercado e da saúde pública que delimitam as pautas do Fórum.
“Mais do que as doenças negligenciadas em si, nós temos pessoas, cidadãos e cidadãs que são tolhidos da sua cidadania plena em decorrência de suas condições de saúde. E por conta dessa negligência, elas acabam sendo colocadas em situações ainda mais vulnerabilizantes e desiguais. Então como garantir cobertura e qualidade de acesso à saúde a essas pessoas? É para essa inquietação que buscamos refletir em caminhos e respostas.”, revela Alberto Novaes.
Pela primeira vez no Abrascão, a reunião ocorreu uma semana após o 7º Encontro Nacional do Fórum DTNs, onde foi elaborada e divulgada a Carta Aberta de Belém com 13 eixos de reivindicações a partir do trabalho de lideranças em doenças negligenciadas. A Carta de Belém tem como tema “Em defesa da democracia e dos direitos para as populações negligenciadas”, onde foram trazidas questões envolvendo direitos humanos e sociais, superação da pobreza e iniquidades, além de acesso a ações de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento oportuno, longitudinal e de qualidade atreladas à vigilância em uma perspectiva de Saúde Única.
O documento, amplamente divulgado entre congressistas durante o 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, já foi entregue à presidência da Fiocruz durante o 57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop 2022), além de ter sido encaminhado por meio de moção aprovada no evento ao Ministério da Saúde. A carta também foi divulgada em vídeo pelo coletivo de lideranças, contendo os principais pontos de reivindicação.
Pontuando uma das reivindicações da carta, a presidente da Associação de Chagas da Bahia (Achaba), Amélia Bispo, lembrou da urgência para que a utilização de testes rápidos seja incorporada pelo Ministério da Saúde como ferramenta para o controle da enfermidade. De acordo com o Ministério da Saúde, a doença atinge entre 1 milhão e 4 milhões de pessoas em todo o país, sendo mais de 80% sem diagnóstico e menos de 1% destas sem acesso a tratamento.
“Toda patologia descoberta cedo garante um tratamento mais eficaz. Por enquanto, nós ainda não temos a cura para a Doença de Chagas, mas temos formas de tratar e termos uma melhor qualidade de vida”, lembra Amélia. Juntamente com ela, participou como secretária da Achaba a pedagoga Hilda Correia, também presidente do Projeto Olorum Alaiyè de Oxum.
Para Clara Alves, sanitarista e especialista em assuntos humanitários da organização Médicos Sem Fronteiras, a soma de esforços em diversas frentes é fundamental para dar visibilidade às populações atingidas por doenças negligenciadas e ampliar a rede de apoio para a implementação de políticas públicas efetivas e permanentes.
“O fortalecimento do Fórum DTNs e das lutas desse coletivo é uma responsabilidade não só dos pacientes e das associações, mas também das organizações da sociedade civil, dos movimentos sociais, dos pesquisadores, das universidades e principalmente das autoridades governamentais. Por isso, quanto mais pessoas e organizações envolvidas, mais potente será a nossa luta”.
Como perspectiva para as próximas ações, as representações do Fórum pretendem dar maior visibilidade às pessoas afetadas pelas DTNs a partir das conferências de saúde em todo o país, fortalecendo os movimentos na luta pela Democracia, por superação das iniquidades, em respeito à diversidade e da justiça social.
Conheça mais sobre o Fórum DTNs e acesse a Carta Aberta do 7º Encontro Nacional de 2022 no link a seguir: https://bit.ly/CartaForumBelem2022.