Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase apresenta panorama com dados da doença registrados no último ano.
A notificação de novos casos de hanseníase apresentou uma queda de 14,52% entre janeiro a novembro de 2024 quando comparado ao mesmo período de 2023. Segundo os dados do Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase do Ministério da Saúde, foram apenas 19.469 casos notificados oficialmente em todo o país.
Apesar dos dados demonstrarem uma diminuição de casos, isso não reflete, necessariamente, que estamos no caminho correto para enfrentar a hanseníase. Afinal, mesmo com a diminuição de casos registrados, houve um aumento de casos que apresentam lesões neurais (Grau 1), que em 2023 registrava 35%, enquanto que em 2024 foi de 36,5%. Já a porcentagem de diagnósticos que apresentaram deformidades físicas incapacitantes (Grau 2) foi de 11,2%, mesmo número do ano anterior.
Desde o período da pandemia de Covid-19, a enfermidade tem passado por um cenário grave de subdiagnóstico. Entre 2019 e 2021, houve uma queda de pouco mais de 34% dos casos notificados. Na época, aproximadamente 11% das pessoas diagnosticadas revelaram lesões graves nos olhos, pés e mãos, sugerindo a detecção tardia da doença.
A dermatologista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Maria Leide W. de Oliveira, cita a importância de ações permanentes no enfrentamento à doença, sobretudo quando se trata sobre o alinhamento entre Governo Federal e os municípios. “As ações desencadeadas pelo Ministério da Saúde vêm acontecendo e elas ajudam a manter as coisas acontecendo, mas não dá conta de cobrir um país desse tamanho. Os municípios precisam de uma gestão estratégica com a unidade nacional, porque, nesse momento, nós não estamos encontrando uma unidade nacional no planejamento das ações para manter estável o registro de casos”, afirma.
Gráficos de 2023: 2023.png
Gráficos de 2024: 2024.png
Contatos Próximos
Já as informações acerca dos contatos próximos examinados, essencial para a detecção precoce da doença por serem indivíduos mais suscetíveis a contrair a doença devido à convivência próxima e prolongada com pessoas diagnosticadas, também registrou queda. De 79,7% em 2023, para 75,5% em 2024. Os números estão distantes dos parâmetros recomendados pelo próprio Ministério da Saúde, que indica a necessidade de que, pelo menos 90%, dos contatos próximos sejam avaliados.
Outro dado importante para entender como anda a hanseníase no país está relacionado ao tratamento da doença. A maior parte das saídas de tratamentos se deu por cura dos pacientes registrados, o que representa 64,6%. Entretanto, 5,5% das situações ainda indicam abandono do tratamento. Apesar da diminuição de casos de abandono, a taxa ainda deve ser motivo de atenção, uma vez que há o aumento do risco de desenvolvimento de resistência medicamentosa quando o tratamento é interrompido. No caso da porcentagem de saídas por cura, houve uma queda em comparação a 2023, que era de 76%.
“Os números acendem um alerta para a necessidade de ampliar a busca ativa de casos e reforçar as ações de formação de profissionais de saúde da atenção primária. A hanseníase tem cura, e a divulgação de informações claras e precisas sobre a doença é essencial para ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento, além de combater o preconceito.”, avalia Alexandre Menezes, epidemiologista e pesquisador de Doenças Tropicais Negligenciadas.