GAC em unidade prisional fortalece combate à hanseníases

Iniciativa pioneira em Pernambuco busca promover ações de saúde integral
voltado à população privada de liberdade acometida pela doença

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Por mais que a Constituição Federal Brasileira garanta que a “saúde é um direito de todos e dever do Estado”, é fato que a população prisional carece de medidas efetivas para esse feito. Segundo dados do Conselho Nacional do Ministério Público levantados no auge da pandemia de Covid-19, pelo menos 31% das unidades prisionais inspecionadas pelo órgão não ofereciam assistência médica internamente. Esse dado, atrelado à superlotação nos presídios, demonstra que o ambiente prisional se torna propício para disseminação de doenças infecciosas, sobretudo por conta da falta de vigilância e controle.

Em 2018, por exemplo, foi detectado um surto de hanseníase nas cadeias do Mato Grosso, estado que lidera o número de casos da doença no Centro-Oeste brasileiro. A situação de negligência aconteceu no Centro de Detenção Provisória de Juína, onde foram diagnosticados 23 casos da doença em junho daquele ano. A unidade estava sem médicos desde março, e após as detecções dos casos a justiça estadual decretou a interdição parcial do presídio.

Tendo em vista essa realidade, a NHR Brasil, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco e com a Universidade de Pernambuco (UPE), tem apoiado o Grupo de Autocuidado (GAC) da unidade prisional Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (PJALLB), em Recife.

Os encontros, que vêm acontecendo desde 2021, têm sido avaliados pelos profissionais de saúde como uma importante frente para prevenir o surgimento de novos casos e garantir um espaço de acolhimento aos internos acometidos. Gabriela Andrade, apoiadora institucional da equipe de atenção primária prisional da unidade, conta que esteve presente nas reuniões do grupo desde o início e pôde perceber o quanto as atividades têm beneficiado os participantes.

“No primeiro encontro, eles chegaram bem quietos. Todos meio que na defensiva mesmo”, explica Gabriela ao contar que esse comportamento mudou após o período de adaptação às dinâmicas das atividades. A partir de então, os participantes ficavam cada vez mais animados para o retorno do GAC. “É muito enriquecedor para eles, porque conseguimos promover o conhecimento a respeito da doença, levando para eles a importância do autocuidado”, adiciona.

Treinamentos

Além de promover autoconhecimento e fortalecer a autoestima dos participantes acometidos pela hanseníase, eles são instigados a convidar outras pessoas da unidade para participar dos encontros. Essa troca permite difundir informações e conhecimento sobre a doença dentro da unidade prisional, o que ajuda não só a enfrentar o estigma, como também para a redução da subnotificação de casos, uma vez que promove a conscientização sobre os sinais e sintomas da doença.

Gestora de projetos da NHR Brasil à frente dos GACs, Marize Ventin avalia que os principais desafios no enfrentamento à hanseníase no GAC da unidade do PJALLB não são relacionados a questões operacionais do grupo, mas sim a nível da própria política de hanseníase dentro do estado. Principalmente com relação ao acesso ao diagnóstico, a continuidade do tratamento e o pós-alta.

“A nossa colaboração com a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco propõe treinar os profissionais de saúde da instituição prisional para serem capazes de identificar casos suspeitos de hanseníase no presídio e iniciar o tratamento na unidade básica de saúde do sistema prisional”, complementa ela.

Alexandre Menezes, diretor nacional da NHR Brasil, destaca que a iniciativa pioneira contribui para a promoção de políticas públicas para o controle da doença no sistema carcerário. “Hoje não temos ações efetivas que garantam o controle da hanseníase no ambiente prisional, muito menos o bem-estar das pessoas acometidas nesses locais. Por isso, vemos a necessidade de fortalecer essa estratégia para expandir a atividade para outras unidades prisionais”.