Conheça a história do agricultor que transformou a luta contra a hanseníase em força para cuidar de sua família e criar novas oportunidades em sua comunidade.
Sebastião Juraci de Queirós, agricultor de 73 anos, natural de Jaibaras, Sobral (CE), viu a hanseníase impactar a vida de sua família de perto. Casado há 54 anos com Benedita Maria, teve 6 filhos com sua esposa, e viu um deles, seu filho chamado Clemir, sofrer profundamente pelo diagnóstico da doença. Seu Bastião, como é conhecido na sua terra, também foi acometido pela enfermidade logo em seguida, mas não se deixou abalar.
Tudo começou com duas manchas discretas em suas pernas, que ele inicialmente atribuiu a picadas de aranha. No entanto, ao procurar a unidade de saúde local, o médico suspeitou de algo mais sério e o encaminhou para um especialista. Após exames detalhados, o diagnóstico de hanseníase foi confirmado. Seu Bastião foi surpreendido, mas sua calma e determinação em lidar com a situação não vacilaram.
O fato de seu filho já ter sido diagnosticado anteriormente trouxe um misto de preocupação e entendimento. Ele sabia o que a doença significava e o impacto que poderia ter na vida de alguém, mas ele não hesitou em dar início ao tratamento e segui-lo corretamente. Enquanto ele próprio seguia com seus dias no campo, cuidando das plantações de milho e feijão, ele começou a perceber uma fragilidade crescente em sua pele, natural no decorrer do tratamento, que agora precisava de maiores cuidados.
Seu Bastião nunca se isolou por medo da doença, nem quando alguns vizinhos sugeriram que Clemir deveria ser separado da família e isolado em um quarto dos fundos de sua casa. Essa ideia nunca foi uma opção para ele e sua esposa. “Ele é nosso filho, não vamos abandoná-lo. Vamos cuidar dele até que ele fique bom!”, afirmava com determinação sempre que o assunto surgia.
“A doença é algo que contamina o pensamento da pessoa, não é só o corpo. Por isso temos que ser fortes nessa trajetória”, compartilha Sebastião, que se manteve firme em seu tratamento e em seu cuidado com seu filho por meio de sua fé.
O agricultor foi diagnosticado precocemente, e começou o tratamento em tempo de evitar que a hanseníase avançasse para estágios mais graves. Ele se considerava sortudo por isso, mesmo lamentando que seu filho não tivesse tido a mesma oportunidade. A dor de ver Clemir sofrer tanto era um peso que ele carregava todos os dias, mas sua determinação em apoiá-lo e estar ao seu lado era inabalável.
Clemir participava assiduamente das reuniões em grupo do Projeto Desenvolvimento Inclusivo da Fundação NHR Brasil, mas devido à evolução de suas reações hansênicas, o rapaz deixou de comparecer às atividades. Comprometido com o tratamento e com o cuidado do filho, Seu Bastião ocupou o lugar do filho nas reuniões, compondo ativamente as atividades e escutando as informações sobre a hanseníase atentamente para repassar a Clemir quando o encontrasse em casa.
Foi assim que o agricultor se tornou uma figura frequente nos encontros do grupo de atividade da Fundação. Hoje, seu Bastião participa da implementação do novo projeto de Reabilitação Socioeconômica da organização, voltado para a criação de abelhas e produção de mel orgânico, construindo novos caminhos para a geração de renda autônoma na comunidade de Jaibaras.
À medida que o tempo passava e o tratamento de Sebastião progredia, ele encontrava consolo na rotina do campo e na união de sua família. Seu Bastião continuava firme, compartilhando suas colheitas com orgulho e gratidão por cada momento ao lado de seus entes queridos. A hanseníase pode ter afetado sua vida, mas não rompeu o vínculo de amor e cuidado que ele cultivava com sua família, especialmente com seu filho.
